Olá amigos,
Quando você ler a minha coluna na próxima sexta-feira, dia 13, nós já conheceremos o resultado dos dois primeiros treinos livres do GP da Austrália, etapa de abertura do 71º campeonato da história da F1. Mas essas sessões livres são apenas indicativos do que esperar do restante do fim de semana de competição.
As equipes costumam levar para Melbourne novos componentes do conjunto aerodinâmico e, por vezes, seus carros ganham performance, surpreendendo em relação ao que fizeram nos testes de Barcelona. Além disso, os 5.303 metros do Circuito Albert Park, com suas 16 curvas, são particulares. Não é um autódromo, mas uma pista improvisada, com asfalto bastante escorregadio.
É por isso que pode acontecer de um carro ir bem na Austrália e depois não confirmar a expectativa nos demais GPs do início da temporada. Pode ocorrer o contrário, um time não se mostrar competitivo na abertura do mundial e na sequência obter melhor resultados dos esperados.
Você talvez se lembre de ler na semana passada que o melhor deste começo de campeonato é o fato de, pela primeira vez desde a introdução da tecnologia híbrida na F1, em 2014, a Mercedes não se apresentar para o GP da Austrália como franca favorita. Não que seu carro não seja rápido, o modelo W11 é e muito. A dúvida é se Lewis Hamilton e Valtteri Bottas irão completar as 58 voltas da corrida, dado a baixa confiabilidade demonstrada pelo novo motor em Barcelona.
Pessoalmente acredito que o diretor da divisão de motores da Mercedes, Andy Cowell, e o diretor técnico da escuderia, James Allison, descobriram uma forma de tornar o novo motor mais resistente. Mas, para isso, é possível que a equipe pague um preço, ou seja, para ganhar resistência comprometeram um pouco o desempenho. Assim, Hamilton e Bottas talvez não possam expor, ao menos agora, todo o potencial do avançado modelo W11.
Se a Mercedes perder algo de sua força, a Red Bull-Honda poderá se aproveitar. Nos testes de Barcelona, Max Verstappen mostrou que o modelo RB16-Honda representa um passo à frente em relação ao carro de 2019, mas afirmou que sua performance está ainda, provavelmente, um pouco aquém da que viu da Mercedes.
Como a Red Bull-Honda não teve uma única quebra nos treinos, Max e seu companheiro, Alexander Albon, poderão exigir tudo do RB-16 e, quem sabe, poder encarar a Mercedes com chances de vencê-la. Seria bom para a F1. Nada contra a escuderia alemã, por favor, mas ver outro time celebrar a vitória no primeiro GP do ano seria animador, poderia ser um sinal de um ano menos previsível. A Mercedes conquistou os seis últimos títulos de pilotos e de construtores.
Sobre a Ferrari, vimos que eles têm problemas, por enquanto, com o seu SF1000. Para ganhar mais pressão aerodinâmica seus projetistas, Enrico Cardile e David Sanches, comprometeram demais a velocidade nas retas.
Mas o que poucos comentam é que essa mudança radical na velocidade dos italianos nas retas, agora menor que a de seus adversários, muito provavelmente tem a ver com o maior controle do fluxo de gasolina por parte dos comissários. Em 2019 havia a forte suspeita de a Ferrari ter driblado o regulamento. A FIA investigou o caso e o encerrou, sem trazer a público o que detectou.
Isso fez com que sete das dez equipes emitissem, esta semana, um comunicado para informar que se a FIA não lhes informar o que a investigação apurou vão recorrer à justiça comum. A coisa ficou feia. As únicas que não assinaram o documento foi a Alfa Romeo e a Haas, que competem com motor e câmbio Ferrari. Esse tema deverá repercutir ainda nos dias do GP da Austrália.
Por tudo isso é que penso ser difícil ver a Ferrari lutando pela vitória em Mebourne, mas claro não descarto. Mais uma coisa: amigos, prestemos atenção na corrida de Sergio Perez e Lance Stroll, da Racing Point. Eles vão competir com o carro da Mercedes de 2019, rebatizado RP20, sabidamente veloz e confiável, características perfeitas para uma abertura de campeonato. Não deveremos nos surpreender se Perez e Stroll forem muito bem na Austrália.
Nos falamos, agora, depois dos primeiros treinos livres. Abraços.
(*) Zé Vitte é piloto, jornalista e correspondente internacional.